sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os Pitéus do Carnaval


No carnaval...
O antigo Entrudo português - caceteiro e ofensivo, avinhado e licencioso, tinha um dito relacionado com a comida: "No Entrudo come-se tudo".
Mas é preciso cuidado com afirmações definitivas: no Entrudo, não tem lugar o peixe, que segundo a sabedoria popular não puxa carroças, e nesta quadra festiva há sempre carroças a puxar, algumas bem pesadas por sinal.
O Carnaval é festejado nos três dias que antecedem a Quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas e se prolonga até à Páscoa.
Mas em rigor, logo a seguir à quadra natalícia, mais concretamente no termo do período dos doze dias que vão do Natal aos Reis, começa a preparar-se o ambiente para o Carnaval. E pode-se dizer que noutros tempos a época carnavalesca começava mesmo no Dia dos Reis, 6 de Janeiro. A partir de então, os domingos eram assinalados por festas já carnavalescas e grandes comezainas, o que levou a apor-lhes o designativo de Domingos Gordos.
Assim nasceram as feijoadas de Carnaval, e diga-se desde já que as melhores são as do Norte, com destaque para as transmontanas, enriquecidas com o fumeiro da região.
Na Beira Litoral, faz-se uma feijoada com orelheira, a que se juntam muitos nabos (4 para 1 orelha) e a respectiva rama, tenrinha.
Nas Minas da Panasqueira, há uma feijoada temperada com massa de pimentão, e na qual, do porco, só se usam os pezinhos.
No Porto, toda a gente sabe, fazem-se grandes feijoadas e diga-se enfim que as tripas não seriam o que são se lhes faltasse a saborosa leguminosa. Falta acrescentar que os açorianos juntam à feijoada ramos de funcho, prevenindo assim eventuais flatulências.
Manda a tradição que a feijoada seja sempre acompanhada por arroz, e há uma explicação para o facto: o cereal melhora a qualidade das respectivas proteínas.
No Norte, em princípio, o arroz é de forno, devendo ser servido no recipiente em que foi cozinhado.
Será necessário dizer ainda que as feijoadas são melhores se forem reaquecidas.
O feijão chegou à Europa Ocidental em 1528 e os historiadores atribuem o feito ao Papa Clemente VII que, tendo recebido das Índias Ocidentais umas estranhas sementes em forma de rim, ordenou a um frade, Piero Valeriano, que as semeasse.
Os resultados finais foram excelentes: além do mais, os frutos produzidos (baptizados com o nome de fagioli, por fazerem lembrar as favas) eram agradáveis ao paladar.
Quando Catarina de Médicis viajou para Marselha, para casar com o Duque de Orleães, futuro Henrique II, o frade Valeriano explicou-lhe que os homens também se conquistam pelo estômago e meteu-lhe na bagagem um saco com feijões.
Parece que o frade tinha toda a razão.

Obrigada Dora Tavares

do livro: Festas e Comeres do Povo Português
da Editorial Verbo

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